Estou deprimida. Estou ouvindo Radiohead.
Duas orações que, juntas, são absolutamente óbvias. Mereceriam uma conjunção coordenativa conclusiva com vinho e remédios pra dormir. Aí só me faltaria mesmo a câmera e um horário depois da novela.
Outro dia (outro domingo) ouvi que a Globo usou Radiohead – esse mesmo que eu to ouvindo, A Hail to the Thief – como trilha sonora de uma reportagem do Fantástico. Essa a mesma Backdrifts. Uma batida descontextualizada? Não. Recontextualizada. Eu é que tava fora de contexto ouvindo o que passava no Fantástico.
Deve ser essa friaca do inferno. Deve ser minha oscilação hormonal.
Duas orações que, juntas, são absolutamente óbvias. Mereciam uma conjunção coordenativa aditiva sem nenhum drama ou espaço no horário nobre.
As reais misérias da vida humana não interessam à ninguém. Não são inéditas, não dão IBOPE.
A maior parte dos Blogs que conheço ultimamente não falam mais de seus autores do que uma máscara social institucionalizada. Os blogs agora são meios de comunicações institucionalizados? Conheço meia dúzia de pessoas que iriam me perguntar se eu realmente sei o que estou dizendo com institucionalizada. Vomitaria nelas.
Essa semana o Adorno me disse que só mesmo aquilo que foge aos olhos tem o que dizer num mundo no qual as práticas sociais estão tão cheias de sistema, que a pura descrição da realidade só leva a mais sistema. Ele me disse que, nesse mundo do cão, apenas a dolorosa torção do eu, expressada na arte [nesse caso, do meu amigo romance], pode levar algém a algum lugar além do establishment.
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“[...] a abolição da distância é um mandamento da própria forma, um dos meios mais eficazes para atravessar o contexto do primeiro plano e expressar o que lhe é subjacentente, a negatividade do positivo. [...] O sujeito literário, quando se declara livre das convenções da representação do objeto, reconhece ao mesmo tempo a própria impotência, a supremacia do mundo e das coisas, que reaparece em meio ao monólogo”.
Theodor Adorno em Posição do Narrador no Romance Contemporâneo
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Nesse exato momento sinto dor. Amanhã não mais, tenho que trabalhar.
Ao som de Radiohead. There there.
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